No Brasil, as chamadas automáticas, também conhecidas como robocalls, têm gerado grandes problemas para o sistema de saúde, especialmente para pacientes em situações críticas, como aqueles à espera de transplantes de órgãos. Essas ligações, que frequentemente vêm de números desconhecidos ou com curta duração, são muitas vezes ignoradas, criando uma barreira no acesso a tratamentos essenciais.
Em hospitais e centros de transplante, o tempo é um fator vital. Quando um paciente não atende uma ligação devido à incerteza sobre sua origem, ele pode perder uma oportunidade crucial para um procedimento de emergência. Casos de pacientes que perderam transplantes por não atenderem ao telefone têm se tornado cada vez mais comuns, e a situação está se tornando uma preocupação crescente para os profissionais de saúde.
A enfermeira Jaquelina Bica, da Santa Casa de Porto Alegre, destacou o impacto dessa falha: “Já tivemos pacientes que perderam o transplante porque não atenderam o telefone.” Esta realidade reflete a seriedade da questão, pois uma simples ligação perdida pode significar a diferença entre a vida e a morte para muitas pessoas.
Além dos transplantes, os agendamentos de exames médicos também são afetados pelas chamadas automáticas. Pacientes como Gabriela Scholl, de Santana do Livramento (RS), já perderam exames cruciais devido a essas falhas no sistema de comunicação. Gabriela expressou sua frustração, dizendo que poderia já estar em tratamento se tivesse atendido a uma dessas chamadas automáticas.
A falta de confiança nas chamadas automáticas, alimentada por anos de abusos por parte de telemarketing e fraudes, leva muitas pessoas a não atenderem esses números. Esse comportamento, embora compreensível, acaba prejudicando o acompanhamento adequado de pacientes e colocando em risco a eficácia de tratamentos essenciais.
Para combater esse problema, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) implementou o sistema “Origem Verificada”, que visa identificar as empresas responsáveis pelas chamadas automáticas no visor do celular. Esse sistema tem como objetivo aumentar a segurança para os pacientes, permitindo que eles reconheçam as ligações legítimas relacionadas à saúde.
No entanto, mesmo com as iniciativas da Anatel, a quantidade de robocalls disparadas no Brasil continua a ser um grande desafio. Estima-se que cerca de 20 bilhões de ligações automáticas sejam feitas todos os meses, e muitas dessas chamadas acabam se misturando com as ligações de telemarketing. Isso contribui para o caos no sistema de saúde, com pacientes frequentemente se recusando a atender chamadas que poderiam ser vitais para seu tratamento.
A presença de criminosos que utilizam robocalls para aplicar golpes só agrava ainda mais a situação. Muitos golpistas se aproveitam da desconfiança gerada por essas chamadas automáticas para enganar os cidadãos. O advogado José Milagre, especialista em crimes cibernéticos, alertou para o perigo dos fraudadores que manipulam vítimas com respostas como “sim” ou “não”, causando sérios danos financeiros e emocionais.
Portanto, a crescente dependência de sistemas automáticos para comunicação no setor de saúde exige uma reavaliação urgente. Embora soluções como a “Origem Verificada” sejam um passo importante, é essencial que o sistema de saúde seja capaz de encontrar um equilíbrio entre a inovação tecnológica e a proteção dos pacientes. O futuro da saúde no Brasil depende da capacidade de adaptar a comunicação a um modelo mais confiável e seguro, garantindo que ninguém perca uma oportunidade vital de tratamento devido a uma simples ligação não atendida.
Autor: Roman Tikhonov